Um ídolo no esporte baiano: Popó

 

Popó iniciou sua carreira aos 14 anos de idade, jogando em todas as posições (até no gol). Tornou-se tão popular, que ganhou a alcunha de "o craque do povo", devido a sua popularidade entre os baianos. Também ganhou outro apelido: "O Terrível". Atuou em onze clubes de Salvador, com destaques para, Ypiranga-BA. Foi o maior craque do esporte baiano nas décadas de 1920 e 1930. Logrou-se bicampeão estadual jogando pelo Ypiranga. Mas a principal façanha do maior supercraque baiano foi tornar-se o líder do revolucionário time do Ypiranga, o primeiro a vencer o racismo que marcou o início do futebol no país. O Vasco da Gama e outros clubes seguiram o exemplo dos baianos.

popo (1).jpg

Por: Coriolano P. da Rocha Junior

 

Nascido em 1902 e falecido em 1955, Popó iniciou suas peripécias com a bola no bairro do Rio Vermelho, local onde nasceu e que contou com vários times de futebol ao longo dos tempos e que sempre teve vários espaços para jogos de futebol. Desde o começo ele se destacava, demonstrando habilidade e qualidade física e técnica, que o distinguiam dos demais praticantes, fato este que fez com que logo se chamasse atenção para seu jogo.

 

Popó começou cedo a jogar nas equipes de futebol de Salvador e ao todo esteve em onze equipes da cidade, que foram: Sul América, Fluminense, Bahiano de Tênis, Internacional, São Bento, Auto Bahia, Botafogo, Ypiranga, São Cristovão, Royal e S.C.Brasil. Destes, por duas oportunidades jogou pelo Botafogo e pelo Ypiranga (GOMES, 1999). Popó ainda esteve no futebol alagoano.

 

Esta movimentada vida futebolística de Popó nos dá margem para várias interpretações. Uma é a de que ele realmente representava a figura de um jogador que era desejado pelas equipes e seus torcedores, outra, nos faz compreender uma ideia de amadorismo no esporte local, que o fazia e mesmo lhe dava a oportunidade de circular por vários clubes e ainda, confirma nele a condição de ídolo, já que foi pretendido por clubes diferentes, de variados bairros da cidade.

 

Esta “circulação”, ou melhor, transferência do jogador pelos clubes era noticiada com atenção pelos jornais, a exemplo da edição do A Manhã (08 de maio de 1920). Como esta, outras tantas vezes os jornais deram destaque a mudança de clubes por Popó. Também se notava essa mudança dos clubes, nas escalações trazidas pelas páginas dos periódicos locais.

Outro aspecto notável de Popó é que ele foi capaz de atuar em diversas posições. Tal condição se observa nos jornais, que traziam as escalações e as descrições dos jogos, que o mostram da defesa ao ataque. Ele, desde criança se caracterizou também pelo tipo físico, fato que o fez iniciar nos campeonatos ainda quando adolescente.

 

Popó também jogou em certames de caráter nacional pela seleção da Bahia. Tal condição o fez ser reconhecido como um grande jogador por jornais cariocas, que viam nele um grande talento, como a exemplo do O Globo Sportivo (13 de janeiro de 1950), em matéria que se refere ao campeonato de 1934, vencido pela Bahia. Em edição com data não identificada, de 1952, o jornal carioca O Globo Sportivo traz o seguinte texto: "Não devemos esquecer o maior centro-medio de todos os tempos surgido ou consagrado fora do Rio e São Paulo: o célebre Popó, da Bahia. Jogador fenomenal, cuja infelicidade foi unicamente não ter sido atraído por nenhum grande clube das duas capitais. Grande craque foi Popó, com a grande vantagem de ser um jogador “7” instrumentos , pois atuava em qualquer posição (p. 21).

Outra forma de reconhecer seu valor, mesmo em âmbito nacional como futebolista, foi que o Jornal O Globo (RJ), noticiou no dia 20 de setembro de 1955 sua morte. Na página 12, uma nota escrita em letras maiúsculas e com uma foto tinha o título – Morreu Popó -. O texto fazia menção a sua destacada qualidade técnica, ao fato de ter jogado por vários clubes, em diversas posições e ao título brasileiro de 1934 e ainda fala do luto oficial decretado a altura, pela Federação Baiana de Futebol. Estas matérias dão bem a dimensão do que foi Popó como jogador, que mesmo sem ter circulado nos chamados grandes centros, foi reconhecido como um grande jogador. Abaixo uma outra imagem de Popó, com uniforme do S.C. Brasil,  de O Imparcial (19 de dezembro de 1935, p.7)".

 

Enfim, Popó foi um jogador de talento, um homem capaz de atuar em diferentes funções, com qualidade física destacada, um homem de gols e que viveu um futebol onde o jogo ainda não gerava renda substancial a quem jogava, um homem que explorou o desejo pelo jogo, numa Bahia dividida socialmente, com marcas de racismo, segregação e segmentação social.

 

A idolatria por Popó foi além de seu tempo de jogador, tanto que fãs fundaram o Popó Bahiano, que chegou a jogar no campeonato local. Tal clube teve a intenção, de já pelo nome homenagear o ídolo baiano. Ídolo, que fora do futebol (parou de jogar em 1937) viveu as amarguras de quem tem de abandonar seu jogo (parou de jogar em 1936) e de não ter podido dele extrair formas melhores de vida. Popó foi um exemplo do futebol e suas paixões, um jogador que viveu as expressões e as dores máximas de uma prática que movimenta multidões e, por tanto, tem significados múltiplos.

 

Popó.jpg

O craque Popó jogando pelo Ypiranga-BA contra o Bahia no Campo da Graça nos anos 30.